domingo, fevereiro 13, 2005

Eleições

Agora que se aproxima a altura das eleições, e tendo este blog também um carácter eminentemente político, não poderíamos deixar de fazer referência a este tema. Porém, como forma de introdução, queríamos também manifestar o mais veemente repúdio por esta forma de total e completo embuste a que chamam Democracia Representativa, a esta forma de controlo disfarçado em que as posições de poder se mantêm completamente fechadas a influências que venham realmente do povo. Não obstante, estando ainda a sociedade numa fase do seu despertar demasiadamente embrionária, desorganizada e perdida em termos de referências, é vital que utilisemos as armas que o sistema se vê obrigado a pôr à nossa disposição.

Esta questão já foi de certa forma abordada aqui, mas pretende-se desta forma levar o raciocínio mais longe e de forma mais desenvolvida, o que não dispensa a consulta do link acima indicado, retirado de "O Fogo de Prometeu". A questão aqui é, como se perceberá, incentivar ao voto em branco. Ao mesmo tempo, tentar resolver a questão que se instalou na blogosfera - a escolha entre votar em branco e simplesmente não votar de todo. Há diferenças fundamentais entre estas duas posições, não propriamente nas ideias que uma e outra defendem - é claro que o que se procura aqui fazer é lançar um repto ao sistema pseudo-democrático, demonstrar que algo não está correcto - mas sim a forma como a leitura dos actos pode ser feita. A demonstração das intenções, para além de ter que ser feita com convicção, tem também de ser feita de forma inequívoca. Isto é, o acto tem que ter tal intensidade e intenção que apenas uma leitura possa daí resultar. Não podemos esquecer que, apesar de a blogosfera ser a forma de imprensa mais livre que existe e onde podemos livremente manifestar as nossas opiniões e travar lutas ideológicas contra o regime estabelecido, não temos ainda a influência suficiente para combater os principais pilares de apoio político junto da opinião pública: os mass media. Isto impede que cada um de nós (e todos ao mesmo tempo) possamos fazer uma declaração de voto e permite em simultâneo a distorção das intenções, caso estas não sejam de facto inequívocas.

O não-voto é uma forma de protesto total, que, a generalizar-se, lançaria o caos completo sobre a forma de organização do sistema e sobre todas as estruturas pseudo-democráticas que supostamente nos apoiam, quando na verdade apenas são as muletas do Estado-Pai. Porém, o não-voto tem uma séria desvantagem. O não-voto já é um hábito generalizado. Muitas vezes, quem ganha as eleições é a abstenção. Ainda assim, não vemos as instituições pseudo-democráticas a tremer de medo, muito embora esteja agora na moda que os candidatos apelem ao voto (com medo de simplesmente não terem a percentagem suficiente para derrotar os oponentes, claro). Porquê este não-efeito? Pelo acima referido, ou seja, pelo facto de que é possível (e, aliás, muito fácil) fazer uma interpretação diferente do não-voto. A abstenção é agora tida como o sintoma principal de uma "democracia evoluída e amadurecida", em que tudo corre "sobre rodas" e em que as massas estão minimamente satisfeitas com o funcionamento geral, sendo apenas necessário proceder a mudanças sobre a ideologia que predomina num dado momento e que corresponde a uma determinada forma de agir dentro de um mesmo sistema. Assim, quem for não-votar, estará a ser adjudicado, mesmo contra vontade, neste grupo de pessoas que apenas vêem estabilidade à sua volta. Para além disto, e o que é mais vergonhoso, é que esta interpretação é, na maioria dos casos, "verdadeira": as pessoas realmente não votam por preguiça, por sentimento de impotência, por falta de informação, por achar que isto é "tudo o mesmo". Aqueles que praticam o não-voto estão juntos (nas estatísticas que são divulgadas e que enformam a maneira como as massas vêem os resultados) com este bando de preguiçosos. O que daqui resulta, quer queiramos quer não, é uma anulação da acção interventiva do não-voto. Comparativamente falando, seria como tentar fazer uma manifestação silenciosa sem dizer quais as razões no meio da multidão que todos os dias passa na Baixa de Lisboa: no meio de tantas pessoas silenciosas a passar para trás e para diante, os manifestantes não seriam notados simplesmente porque escolheram não manifestar realmente as causas do seu descontentamento ou mesmo quaisquer reivindicações. A facilidade e a credibilidade desta subversão estão contra as reais intenções que o não-voto busca. Além do mais, a abstenção en masse teria certamente como resposta uma qualquer medida coerciva por parte do Estado; por muito destabilizador que fosse, serviria apenas para que este mostrasse a sua verdadeira face.

Por outro lado, o voto em branco é uma acção positiva (no sentido em que é preciso de facto ir fazer algo, ao invés do não-voto). Sendo uma acção positiva, envolve empenho, envolve a passagem de uma mensagem de forma muito mais consciente e, portanto, mais difícil de ser subvertida. A mensagem que o voto branco envia de forma inequívoca é esta: "nenhum dos acima mencionados foi considerado apto para a posição à qual se candidatou e, por conseguinte, a forma de governo que aqui se apresenta não é a correcta". Imaginemos por um momento que toda a abstenção era transformada em votos em branco. O que aconteceria então? É verdade que a abstenção é grandemente desconsiderada, e a muitos causa mais alívio do que preocupação; mas o que dizer de mais de 50% de votos em branco? Votar em branco exige um repensar completo de qualquer estratégia discursiva de ocultação que o sistema actual possa conceber. Mais ainda: impossibilita a ocultação. Não se pode dizer que o povo não participou, pode-se sim dizer que o povo participou e que rejeita veementemente qualquer um dos propostos. Que a solução que se lhes apresenta não é, afinal de contas, solução alguma. A propósito disto, aconselho a leitura do "Ensaio Sobre a Lucidez" de José Saramago.

É natural que nem a abstenção esclarecida nem a votação em branco vão ganhar estas eleições, muito embora a abstenção "normal" as deva ganhar certamente. Ainda assim, queremos aqui estabelecer uma forma de pensar que se reflicta na forma de agir - este não é um dos objectivos finais dos Neo-Illuminati, que jamais poderiam ser um partido político, apenas uma forma de luta pró-activa contra o actual regime, e ao mesmo tempo uma forma de demonstrar a quem nos acusa de teorização pura que estamos completamente dedicados à mudança efectiva das condições de escravatura e exploração em que vivemos actualmente. Este post não é nem pretende ser uma cobertura extensiva das posições sobre o sistema político que os Neo-Illuminati defendem. Essas serão abordadas noutra altura, de forma mais exaustiva e tendo em conta outros aspectos. Isto é um apelo à consciência, ao despertar. É por aqui que se pode ver se realmente as nossas mensagens têm de facto surtido algum efeito. Quando olharem para o boletim de voto, pensem sobre o que a Democracia significa e pensem se alguma vez viveram numa.

Prometeu

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Os iluministas nunca se auto-intitularam de "iluminados", porque tal é despudor. Elogio em causa própria é imodéstia e quando os autoconfessados de "Neoiluministas", o caso é da competência de Júlio de Matos.
Isto a prpósito do voto branco, em que os Neo Iluminati se mostram obscuratistas. Voto branco, para quê? Para derrotar este "embuste de Democracia Representativa". Que democracia está o Prometeu a pedir? Democracia directa? Pôr dez milhões de portugueses a governar para um qualquer ditador acabar com a brincadeira?

1:47 da manhã  
Blogger Daniel Cardoso disse...

A propósito da primeira frase, remeto para a obra de Kant, O que é o Iluminismo. Aliás, o período modernista foi o primeiro que se pensou a si mesmo como período histórico definido, com um projecto definido. Desta vez, posso remeter para Auguste Comte.

Em relação ao facto de estarmos aptos para ir para o Júlio de Matos, com certeza que o Anónimo em questão nunca lá teve internado alguém próximo, ou não o diria. Ainda assim, mais vale isso do que a suposta sanidade da cegueira.

Em terceiro lugar, como me fartei de mencionar no post, este não tem como fim explicitar toda a tendência política dos Neo-Illuminati, pelo que deixarei a questão para mais tarde; se desejar, o Anónimo em questão poderá comentar então. Ainda assim, deixo um último comentário: o que dizer do espírito democrático se um único ditador consegue acabar com o poder de dez milhões de pessoas? A Assembleia da República não chega a um milhão, nem a um milhar...! O Anónimo sente-se assim tão dependente do Estado-Pai?

Prometeu

2:27 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

1. Iluminismo é, historicamente, a reacção racionalista contra o gongorismo ( sec.XVIII ). Não cabem neste rótulo Kant e muito menos A Comte, filósofo positivista do sec. XIX.
2.O "ditador" que porá fim à bricadera, isto é, acaba com o "horror" da democracia representativa, pt é um antidemocrata.
2. Se a democracia representativa "é um embuste", como classificaria a democracia não representativa, caos? Anarquia)? Que democracia é a sua? Um Paraíso?

11:43 da manhã  
Blogger Daniel Cardoso disse...

Repito, essa questão ficará para altura posterior, não para este post.

6:45 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Eu sei que as eleições já passaram, no entanto nunca é tarde para comentar uma opinião.

Discordo profundamente da frase "O não-voto é uma forma de protesto total, que, a generalizar-se, lançaria o caos completo sobre a forma de organização do sistema e sobre todas as estruturas pseudo-democráticas que supostamente nos apoiam, quando na verdade apenas são as muletas do Estado-Pai". Tendo em conta que o não-voto é a chamada abstenção, não pode ser considerada como um protesto; a meu ver, não votar é o desrespeito pela democracia, pelo sistema que muito levou a adquirir (n falo daqueles que não votam porque não podem, porque circunstâncias de força maior o impedem, mas sim dos que não vão por não querer). Vejo com melhores olhos os votos em branco ou os votos nulos do que a abstenção, o simples acto de não votar. O voto em branco é, como tu bem o dizes, considerar que nenhum dos candidatos tem aptidões para o cargo; por outro lado o voto nulo pode ser considerado como a indecisão perante alguns partidos (partindo do pressuposto que é anulado por apresentar duas ou mais escolhas). Estas são duas formas de protesto contra a classe política, mas o facto de não votar é um simples desrespeito, é como dizer " Não me apetece ir votar, o meu voto não vai mudar nada", é verdade um voto não muda, mas muita gente pensa assim, cerca de 32% pensou, talvez, desta forma, todos juntos mudariam a realidade.
Independentemente do quadrado onde se vai pôr a cruz, ou não, o mais importante é ir votar, ir ao local, mostrar que se interessa pelo país e pelo seu futuro, expressando da devida forma o sei pensamento.

Outra frase me despoletou grande atenção : "Porém, como forma de introdução, queríamos também manifestar o mais veemente repúdio por esta forma de total e completo embuste a que chamam Democracia Representativa, a esta forma de controlo disfarçado em que as posições de poder se mantêm completamente fechadas a influências que venham realmente do povo. ". Como dizia o Anónimo, a democracia directa é algo impossível nos dias que correm. Seria possível termos 10 milhões de pessoas a governar, isso não seria governo, mas sim anarquia. Mas, Prometeu, se criticas tanto a Democracia Representativa e sendo a Democracia Directa algo impossível de ter, qual a tua proposta? Qual a alternativa? Já não é a primeira vez que faço esta crítica (não é perseguição, mas sim a minha ideia), mas só te vejo a críticar, mas quando criticas tens que ter algo novo, algo que possa substituir o actual, criticar por criticar não leva a lado nenhum. Há que ter propostas, há que dizer "eu sou contra isto, por estas razões e por isso, proponho isto". Algo a pensar!

11:08 da tarde  
Blogger Daniel Cardoso disse...

Vítor, tal como já referi, os Neo-Illuminati têm de facto propostas, mas que ainda não foram apresentadas. Este post não pretendeu nunca abordar as posição políticas que defendemos, mas sim as que não defendemos.

Como apresentaremos mais tarde, a Democracia Directa talvez fosse impossível até há uns anos, mas já não o é. Porém, isto ficará para um post em que os assuntos serão tratados em maior profundidade: um comentário não é sítio para o fazer.

Em relação ao não-voto, há que distinguir os não-votantes conscientes dos preguiçosos, e para isso o link que apresento neste texto para um outro de "O Fogo de Prometeu" serve como complemento. Só como nota, a questão de "tudo aquilo que conquistámos" tem um problema: estamos sempre a encostar-nos nos louros do passado sem olhar para o futuro. Não quero fazer aqui quaisquer comparações, mas essa estratégia era a de Salazar também. Isto apenas para dizer que se queremos evoluir, temos que olhar para trás criticamente, não apenas pensando no bem que fizemos, mas também no bem que ficou por fazer.

Prometeu

12:18 da manhã  

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