Trinta e um anos de Revolução...
O 25 de Abril foi há trinta e um anos.
Trinta e um anos... Um segundo na História, um segundo na vida de um país, um segundo se os compararmos com os que já passaram sobre as Revoluções Francesa, Russa ou Americana.
Trinta e um anos... Uma vida. Ou até mais, se pensarmos nas novas gerações, nos filhos de Abril, naqueles que já usufruíram de todas as suas conquistas sem participarem nas suas lutas. As gerações que nunca sofreram a repressão. As gerações que encaram a Liberdade como adquirida, porque nunca viveram sem ela. A geração a que eu pertenço.
Trinta e um anos passaram, portanto.
E muito mudou.
E muito continua igual.
Naquela madrugada bela e luminosa em que Portugal renasceu, houve sonhos à solta. Sonhos de paz, liberdade e justiça. Sonhos de igualdade. Os cravos vermelhos que enchiam as ruas, que enfeitavam as armas, a isso levavam. Deixavam sonhar. E Portugal, unido e sorridente no mesmo sonho, unido e esperançoso naquela manhã clara e pura, sonhou. E sonhou poder concretizar esse sonho. E o Povo saiu à rua. E o golpe de estado tornou-se Revolução. Revolução do Povo, Revolução dos Cravos, cravos rubros como o sangue de tantos que tombaram sonhando com ela. Revolução rubra. Revolução dos sonhos. Sonho de Revolução...
Mas os sonhos morreram.
E agora, trinta e um anos depois, as conquistas de Abril, dadas como adquiridas pela minha geração, vão-se diluindo. E a contra-revolução, contra a qual milhares gritaram naquele Verão Quente como nenhum outro, instala-se.
“Não passará! ”, gritava-se.
Onde estão os que gritavam? Morreram? Adormeceram? Desistiram? Cansaram-se? Ela passou! Passou em Novembro, em Novembro de 75 quando o Povo (des)unido escolheu travar a Revolução. E continua a passar!
E os sonhos morreram...
Dir-me-ão que exagero. Que o país evoluiu. Que o país está melhor. Que se aproxima da Europa. Que, se fosse antes, eu nem sequer poderia escrever este texto, colocá-lo neste blog assim, às claras. Ou falar das minhas ideias. Ideias revolucionárias, de esquerda, comunistas, anarquistas mesmo.
Em parte têm razão, eu sei. Mas não posso achar normal que, trinta e um anos depois, as novas gerações desconheçam ou esqueçam o que foi o 25 de Abril, esqueçam a gratidão que devem àqueles capitães, sem os quais algo tão simples como um casal beijar-se na rua seria proibido.
Não posso achar normal que a malta da minha idade não saiba quem foram Salgueiro Maia, Zeca Afonso ou Ary dos Santos. Que não saibam quem são Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço ou Vasco Gonçalves. Que a “Grândola, Vila Morena” e o “E Depois do Adeus” sejam consideradas canções antigas e fora de moda. Fora de moda?! Foram as senhas da nossa Liberdade! O 25 de Abril não é apenas mais um feriado em que não há aulas e se pode “dar uma volta”. O 25 de Abril foi o renascer de um povo, do nosso Povo, do nosso País, do nosso Portugal!
Mas a quem é que isto importa?
Trinta e um anos... Tanto tempo e tão pouco.
Destruíram-se a censura (pelo menos a oficial...) e a polícia política. Acabou a guerra colonial que ceifava a nossa juventude. A mulher (finalmente!) emancipou-se. Favoreceu-se o acesso ao ensino. E tantas, tantas outras coisas, conquistas de Abril, conquistas daquela noite em que os capitães saíram à rua, em que os militares e o povo se irmanaram.
Mas ainda há desemprego. Cada vez mais.
Mas ainda há sem abrigo. Cada vez mais.
Mas ainda há fome, e pobreza, e crianças maltratadas, abandonadas, negligenciadas, abusadas.
Mas ainda há guerra. Guerra em que Portugal se intrometeu contra a vontade do seu Povo, que saiu à rua pedindo Paz.
Mas ainda há pessoas aos caixotes...
E enquanto houver isto, enquanto houver tudo isto, enquanto não desabrochar no coração e na alma de cada português um cravo vermelho, Abril não se cumpriu.
Enquanto houver fábricas a fechar e milhares no desemprego, Abril não se cumpriu.
Enquanto houver crianças vítimas... de tudo um pouco, Abril não se cumpriu.
Enquanto cada jovem, cada filho de Abril, não souber o que foi a Revolução, não souber o que custou a Liberdade, a liberdade que agora usam e de que abusam, Abril não se cumpriu.
Enquanto os sonhos daquela madrugada límpida e pura não forem realizados, Abril não se cumpriu.
Enquanto palavras como Justiça, Fraternidade ou Amor ficarem só no dicionário, Abril não se cumpriu.
Enquanto se deixarem cerrar as portas de Abril e perder as suas conquistas, Abril não se cumpriu.
Enquanto o Povo continuar desunido, esquecido da sua força, esquecido dos seus direitos e das suas lutas, Abril não se cumpriu.
Trinta e um anos passaram...
Vamos cumprir Abril!
Trinta e um anos... Um segundo na História, um segundo na vida de um país, um segundo se os compararmos com os que já passaram sobre as Revoluções Francesa, Russa ou Americana.
Trinta e um anos... Uma vida. Ou até mais, se pensarmos nas novas gerações, nos filhos de Abril, naqueles que já usufruíram de todas as suas conquistas sem participarem nas suas lutas. As gerações que nunca sofreram a repressão. As gerações que encaram a Liberdade como adquirida, porque nunca viveram sem ela. A geração a que eu pertenço.
Trinta e um anos passaram, portanto.
E muito mudou.
E muito continua igual.
Naquela madrugada bela e luminosa em que Portugal renasceu, houve sonhos à solta. Sonhos de paz, liberdade e justiça. Sonhos de igualdade. Os cravos vermelhos que enchiam as ruas, que enfeitavam as armas, a isso levavam. Deixavam sonhar. E Portugal, unido e sorridente no mesmo sonho, unido e esperançoso naquela manhã clara e pura, sonhou. E sonhou poder concretizar esse sonho. E o Povo saiu à rua. E o golpe de estado tornou-se Revolução. Revolução do Povo, Revolução dos Cravos, cravos rubros como o sangue de tantos que tombaram sonhando com ela. Revolução rubra. Revolução dos sonhos. Sonho de Revolução...
Mas os sonhos morreram.
E agora, trinta e um anos depois, as conquistas de Abril, dadas como adquiridas pela minha geração, vão-se diluindo. E a contra-revolução, contra a qual milhares gritaram naquele Verão Quente como nenhum outro, instala-se.
“Não passará! ”, gritava-se.
Onde estão os que gritavam? Morreram? Adormeceram? Desistiram? Cansaram-se? Ela passou! Passou em Novembro, em Novembro de 75 quando o Povo (des)unido escolheu travar a Revolução. E continua a passar!
E os sonhos morreram...
Dir-me-ão que exagero. Que o país evoluiu. Que o país está melhor. Que se aproxima da Europa. Que, se fosse antes, eu nem sequer poderia escrever este texto, colocá-lo neste blog assim, às claras. Ou falar das minhas ideias. Ideias revolucionárias, de esquerda, comunistas, anarquistas mesmo.
Em parte têm razão, eu sei. Mas não posso achar normal que, trinta e um anos depois, as novas gerações desconheçam ou esqueçam o que foi o 25 de Abril, esqueçam a gratidão que devem àqueles capitães, sem os quais algo tão simples como um casal beijar-se na rua seria proibido.
Não posso achar normal que a malta da minha idade não saiba quem foram Salgueiro Maia, Zeca Afonso ou Ary dos Santos. Que não saibam quem são Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço ou Vasco Gonçalves. Que a “Grândola, Vila Morena” e o “E Depois do Adeus” sejam consideradas canções antigas e fora de moda. Fora de moda?! Foram as senhas da nossa Liberdade! O 25 de Abril não é apenas mais um feriado em que não há aulas e se pode “dar uma volta”. O 25 de Abril foi o renascer de um povo, do nosso Povo, do nosso País, do nosso Portugal!
Mas a quem é que isto importa?
Trinta e um anos... Tanto tempo e tão pouco.
Destruíram-se a censura (pelo menos a oficial...) e a polícia política. Acabou a guerra colonial que ceifava a nossa juventude. A mulher (finalmente!) emancipou-se. Favoreceu-se o acesso ao ensino. E tantas, tantas outras coisas, conquistas de Abril, conquistas daquela noite em que os capitães saíram à rua, em que os militares e o povo se irmanaram.
Mas ainda há desemprego. Cada vez mais.
Mas ainda há sem abrigo. Cada vez mais.
Mas ainda há fome, e pobreza, e crianças maltratadas, abandonadas, negligenciadas, abusadas.
Mas ainda há guerra. Guerra em que Portugal se intrometeu contra a vontade do seu Povo, que saiu à rua pedindo Paz.
Mas ainda há pessoas aos caixotes...
E enquanto houver isto, enquanto houver tudo isto, enquanto não desabrochar no coração e na alma de cada português um cravo vermelho, Abril não se cumpriu.
Enquanto houver fábricas a fechar e milhares no desemprego, Abril não se cumpriu.
Enquanto houver crianças vítimas... de tudo um pouco, Abril não se cumpriu.
Enquanto cada jovem, cada filho de Abril, não souber o que foi a Revolução, não souber o que custou a Liberdade, a liberdade que agora usam e de que abusam, Abril não se cumpriu.
Enquanto os sonhos daquela madrugada límpida e pura não forem realizados, Abril não se cumpriu.
Enquanto palavras como Justiça, Fraternidade ou Amor ficarem só no dicionário, Abril não se cumpriu.
Enquanto se deixarem cerrar as portas de Abril e perder as suas conquistas, Abril não se cumpriu.
Enquanto o Povo continuar desunido, esquecido da sua força, esquecido dos seus direitos e das suas lutas, Abril não se cumpriu.
Trinta e um anos passaram...
Vamos cumprir Abril!
1 Comentários:
É agora, mais do que nunca, imperativo que nos ergamos e revolucinemos verdadeiramente a sociedade. É agora que deve brilhar a vontade que o Povo tem de se libertar das amarras!
Prometeu
Enviar um comentário
<< Home