Dualidades na ética e no sujeito
O Bem existe? Ou o Mal? O que é conseguimos fazer com estas duas palavras? Dividir. Conseguimos sempre estabelecer um contraste entre agonista e antagonista, entre um lado que queremos e um lado que temos que abominar e rejeitar. Nada disto tem um sentido certo, nada isto é verdadeiro no grande sentido da palavra.
Temos sempre vivido à base de dualidades que se opõem, ao invés de encarmos a verdade como ela é: a de dualidades que se complementam. O ser humano não pode aspirar a ser puro e puramente Bom porque isso está em directa contradição com a própria natureza humana - todos nós temos o nosso "lado lunar"! Conseguimos arrancá-lo de nós? Só à custa de arrancarmos uma própria parte de nós! Ora, isto não significa que tenhamos o direito de dar largas ao nosso lado menos agradável e que podemos fazer o que quisermos! Trata-se simplesmente de encontrar um equilíbrio na forma de agir e de pensar que se conforme com uma ética não pré-estabelecida, mas pessoalmente construída. Lembremo-nos que temos que ter em conta o resultado das nossas acções no outro, num Outro que é tão Sujeito como o Eu.
O Bem e o Mal são características de coisas, são categorizações altamente mutáveis. Existem, porém, certas coisas que vão sendo criadas por acumulação, que se enquadram na nossa sociedade e não podemos relativizar tanto que percamos qualquer linha de guia para a construção de quem somos. O que interessa é que consigamos distinguir para nós o que é que pertence a cada uma das categorias e que aprendamos a aceitar esta duplicidade como ponto de partida e de chegada de um Sujeito não-unívoco. Nalgumas "pequenas" coisas, o que hoje era aceitável, amanhã não será e vice-versa. Mas não deixemos que seja a sociedade a impôr-nos essas definições: temos que ser nós a atingi-las por nós próprios mediante uma via reflexiva.
Prometeu