sábado, abril 07, 2007

Excisão a desaparecer

Pode ler-se nesta notícia (PUBLICO.PT) que

A Eritreia proibiu a mutilação genital feminina (MGF), uma prática que consiste na remoção do clítoris e que atinge 89 por cento das mulheres, islamizadas e cristianizadas, deste país africano. [...] a decisão do Governo da Eritreia prende-se com o facto de que a MGF “põe em perigo a saúde das mulheres, causa-lhes um enorme sofrimento e ameaça as suas vidas”.


Ou seja, a decisão, por muito meritória que seja, é tomada tendo em conta factores "meramente" objectivos, como o risco de vida. Isso quer dizer que é ignorada (sublimada?) a razão que se encontra por detrás destes atentados à "saúde das mulheres", a saber, o fanatismo religioso e a obediência cega a preceitos sócio-culturais.

Se é verdade que não devemos ser acometidos do grave pecado do etnocentrismo, é também verdade que há certos princípios fundadores, como o respeito pela Pessoa humana, que deveriam ser respeitados mais amplamente. Até porque muitos destes casos são processados ainda em crianças pequenas, contra o consentimento (ou sem ele, mais exactamente) das mesmas. E isto viola, mais do que o direito à saúde, o direito à própria identidade, o direito a usufruir de uma sexualidade, alvo de tantos ataques mesmo num mundo supostamente livre, "avançado". Enquanto as razões subjacentes aos problemas não forem expostas, resolver os problemas não vai alterar de sobremaneira a mentalidade o suficiente para erradicar a própria raiz dos problemas.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Nenhuma religião prescreve a mutilação genital feminina, embora muitas pessoas que a praticam julguem fazê-lo com base no Islão.
No entanto, trata-se de uma prática que já existia muito antes de Maomé; e que continuaria a existir, sob outro pretexto qualquer, se o islamismo desaparecesse da face da Terra.
As religiões, sobretudo as do Livro, são culpadas de muitas barbaridades, mas não são culpadas de todas.

5:22 da tarde  
Blogger Daniel Cardoso disse...

Epicuro,

A medida atinge tanto islâmicas como cristãs, e o post em si fala de preceitos sócio-culturais a par da religião. Não é apenas "o Livro" que faz lei, pois muitos outros preceitos religiosos são efectivamente religiosos sem serem directamente emanados da fonte original dessas religiões.

Se bem que, agora que penso nisso, a dita fonte original não passa de uma compilação de preceitos sócio-culturais padronizados e fixos. A serpente a morder a própria cauda, portanto.

8:08 da tarde  

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