domingo, novembro 14, 2004

Mudar

Dizer que se quer mudar é estar a arriscar uma data de coisas. Dizer que aquilo que se quer fazer é diferente, é inovador, é perturbador, constitui sempre um risco. Um risco porque as pessoas muito raramente estão habituadas à mudança.
Ver o Homem como um animal gregário tem sempre sido a norma. Nós somos hábitos, quase se pode dizer. Dependemos deles para conseguir sobreviver neste mundo... Pura falácia! Numa sociedade que dá tanto valor à estabilidade e à igualdade temporal de circunstâncias (sejam elas quais forem), por vezes esquecemos que o mundo avança à base de mudanças, à base de alterações que vêm desregular as nossas crenças. Pensar que o ser humano pode atingir um patamar de perfeição onde se possa estabelecer e estabilizar é uma ideia do antigo Iluminismo de século XVIII, herdada de pensadores como Comte, com a sua Filosofia Positiva. Nós não caminhamos para a perfeição - como se pode caminhar para algo que apenas existe como abstracção? E pior, como é que se define a perfeição se não existem quaisquer bases de comparação?
Esta mudança pode ser encarada de várias formas. Pode ser encarada como uma "simples" mudança de opinião ou de rumo de vida, pode ser encarada como uma mudança científica, pode ser encarada como uma mudança económica ou social, até mesmo política, certamente. Não interessa sobre que parte do Real nos debrucemos, a mudança está lá para desenvolver, para alterar. Na Ciência, estamos a atravessar uma mudança de paradigma no contexto da luta entre as Ciências Sociais e Humanas e as Ciências Naturais. Na economia, caminhamos para um ruinoso neo-liberalismo. Na política, para um extremismo da Direita e para uma dormência da Verdadeira Esquerda. Nas nossas opiniões? Bem, aí, por culpa de factores vários (dos quais o comportamento de cada um não é o menos importante) a mudança parece estar a realizar-se no sentido da não-mudança. Quer isto dizer que as pessoas têm tendência agora, mais do que antes, a deixarem-se ficar nas mesmas posições ideológicas e de opinião que lhes são fornecidas pelos mass media. Num contexto de uma mudança dissimulada e subterrânea - no sentido de não-evidente - as pessoas começam a acostumar-se a um dado sistema de coisas. Quando é preciso tomar medidas para que se faça algo de energético, ninguém responde. Quando se percebe que algo está mal, deixa-se o tempo resolver... ou "os outros".
A verdade é esta, porém: o Homem é um animal de mudanças. É porque mudamos que conseguimos crescer como espécie, e crescer como pessoas, crescer culturalmente e crescer para limites antes desconhecidos. Os períodos de conflitualidade parecem estar esmaecidos neste nosso recanto de mundo, onde todas as coisas são tratadas amenamente, e onde as que não o são geralmente têm pouco interesse (numa relação inversamente proporcional à cobertura jornalística dada, grosso modo). Se queremos mudar o que quer que seja, temos que começar pelo mais primitivo e simples dos sítios. Por nós mesmos. Não se conseguirá fazer nada se avançarmos com esta falta de motivação para mudar. Não queremos que "nos deixem em paz". Queremos mostrar que ainda existimos, que não fomos reduzidos e despersonalizados, que a nossa identidade existe, e que o sujeito humano pode! Crescer não é um processo que termina com a maturação corporal. O nosso crescimento interior deve continuar ad infinitum. Alguém que mantenha as mesmas opiniões sobre tudo demasiado tempo pode estar certo que parou, já que é impossível atingir a perfeição, como referi no início. Há uma infinidade de caminhos a percorrer, há uma trilha que tem uma infinita largura - ficar parado no mesmo sítio é suicídio.
A vida está na mudança.
Prometeu

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