terça-feira, novembro 02, 2004

Nova concepção da relação com o corpo

Termino agora a trilogia que é composta por Descartes e o "cogito" e por Legado estóico. Tal como neste primeiro post, vou agora referir-me mais concretamente a uma resolução destes problemas.

Trata-se aqui de uma coisa que é bastante simples e, ao mesmo tempo, ao nível da execução, extraordinariamente complexa... a mudança social. A mudança das mentalidades que nos perseguem e assombram há já milhares de anos. Dizerem-me que esta tarefa é impossível é simplesmente sucumbir ao eterno derrotismo e laxismo a que estamos tão habituados aqui por terras d'el-rei. Se é possível a um elemento da sociedade essa mudança, se é possível a um pequeno grupo da sociedade essa mudança, não existe nenhuma razão pela qual seja impossível um acontecimento desta natureza. Porém, reafirmo, não será fácil; é quase uma utopia, mas não existe um elemento de impossibilidade técnica que torne esta tarefa impossível.

A mudança aqui segue num caminho bastante óbvio, e que já afirmei no primeiro post desta série. É pela simples articulação da Razão com o corpo, com a nossa identidade carnal, que poderemos conciliar ambos os aspectos das nossas vivências. Não podemos impunemente relegar para segundo plano o legado incomparável de Freud - e isto é algo que a sociedade tem feito há muito tempo. Partindo de um princípio que sobrevaloriza o social como sendo natural, e que identifica (arbitrariamente) o corporal como sendo maligno, a sociedade tem-se recusado a aceitar o seu próprio corpo, ao mesmo tempo que é levada pelo desejo reprimido do corpo, latente em coisas como a publicidade, por exemplo.
A solução passa por desistir de tentar procurar a pureza virginal/sexual como forma de atingir um estado de suposta superioridade humana. Nós somos seres pulsionais, nós somos seres irracionais; somos também seres racionais. A natureza humana é muito melhor entendida se se tiver em conta um permanente sistema de dualidades. É a saudável convivência entre as várias dualidades que nos compõem que podem fazer com que a nossa vida seja mais proveitosa. Não é por eu usar a minha Razão que fico impedido de, em situações diferentes, dar largas à minha sexualidade, e vice-versa. Até mesmo aquelas situações que são consideradas como aberrações podem ser vistas de outro ponto de vista: do ponto de vista social. Por exemplo, era prática comum na Antiga Grécia que os rapazes mais pequenos fossem tomados como protegés por seus colegas mais velhos, com os quais mantiam relações homossexuais. Aquilo que actualmente cria traumas e obriga a tratamento psicológico era antes considerado como natural. Conclui-se que a prática em si tem o valor que a sociedade lhe dá, e não tem um valor intrinsecamente mau, como nos querem fazer crer os homófobos (por exemplo).
Ademais, segundo as teorias de Freud, se diminuirmos o número de coisas a ter que recalcar e proibir, estaremos a facilitar um pouco a nossa vivência psicológica interior. É claro que, repito, tudo isto deve ser feito com a supervisão, e não o controlo absoluto, da Razão. Temos que, em todas as alturas, ter em conta o outro.
Prometeu

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