segunda-feira, novembro 22, 2004

Comunicação e sujeito na pós-modernidade

"A comunicação electronicamente mediada [...] desafia, e ao mesmo tempo, reforça os sistemas de dominação emergentes na sociedade e cultura pós-moderna [;] decreta uma reconfiguração radical da linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autónomo [do Iluminismo] [...] Coloca tanto perigos como desafios que podem conduzir a um desafio fundamental às instituições e estruturas sociais modernas."
POSTER, Mark - A segunda era dos Média
Tendo em conta estas afirmações de Mark Poster, é preciso ver que falta ainda definir realmente este novo sujeito, esta forma que se afasta do etnocentrismo e suposto universalismo do sujeito-Razão do Iluminismo. Uma das componentes da sociedade pós-moderna que está a afectar os sujeitos é, sem dúvida, a passagem dos velhos formatos de comunicação e transmissão de conhecimentos para novos formatos que obrigam a um reposicionamento do sujeito na lógica da comunicação e, portanto, na lógica da sociedade e do mundo. Pensar este novo indivíduo é pensá-lo em ligação com coisas que nunca antes existiram, com uma sociedade que apresenta meios técnicos cada vez mais elaborados e diversificados que dão a palavra mas também anonimizam o sujeito.
A internet, e, já agora, os blogs são um bom exemplo desta mesma realidade. É agora possível cancelar o controlo do fluxo informacional comunicando através de meios que simplesmente têm um poder de difusão total e desregulado. Mas este novo sujeito que aparece e estas novas potencialidades trazem também outro tipo de problemas. Por um lado, o facto de eu poder dizer o que quiser sem mais considerações faz com que eu perca automaticamente algum do impacto que a minha comunicação poderia ter noutro contexto. Autor e leitor não têm simplesmente, qualquer tipo de referências mútuas que permitam ajuizar para além daquilo que está presente, sendo portanto mais difícil que o leitor seja persuadido. A anonimidade deste meio de comunicação é, simultaneamente, um pró e um contra. Por outro lado, a "reconfiguração radical da linguagem" leva a uma reconfiguração radical do sujeito, que perde o seu lugar preestabelecido social e hierarquicamente. Havendo a vantagem de que assim o sujeito seja mais «livre» nos seus movimentos, a verdade é que há um grande risco de que o sujeito se possa perder nestes mesmos movimentos por entre os meandros da nova lógica comunicativa.
A realidade tem-nos demonstrado isto mesmo. Com a criação de novas formas de comunicar, os sujeitos (não a concepção geral de um sujeito), têm-se vindo a perder, a tornarem-se mais amorfos e disformes. O problema não está em toda esta plasticidade agora tornada possível. Está na falta de uma base que permita a locomoção por entre estes lugares em permanente mutação. O necessário agora é encontrar essa mesma forma de dotar o sujeito de uma capacidade de locomoção para que se cumpra o "desafio fundamental às instituições e estruturas sociais modernas". Temos apresentado aqui certos pontos desse mesmo sujeito. Tem sido aqui apresentada a ideia de uma constante alteração como verdadeira forma (ou não forma, mas tipologia de eterna re-formação) do que é o ser humano.
Prometeu

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