Crianças...
Hoje venho falar de um tema que, sinceramente, me repugna e quase enoja... Venho falar dos constantes abusos de toda a ordem que se verificam no nosso país, este (suposto) jardim à beira-mar plantado que é, na verdade, bastante parecido com o Inferno...
Claro está que podem dizer-me que eu estou a abusar, a exagerar, que isto é "normal"... Normal... Ainda há dias li uma crónica de um jornalista da SIC (sinceramente não me lembro do nome dele!) a esse propósito... Dizia ele que realmente esta situação começa a ser encarada como quase "normal", que as pessoas já quase se fartam... Bem, eu devo confessar que estou farta mas é de ver todas estas coisas a acontecer e a inacção com que são recebidas! Quantos casos, neste ano que passou? Já lhes perdi a conta! Só para citar alguns, temos a criança de um mês (um mês!!!) em Viseu que, apesar de já ter saído do estado crítico, ainda apresenta lesões bastante graves; temos o rapazinho que foi violado com um cabo de piaçaba e que acabou por morrer; temos a menina que foi morta pelo pai e pela avó porque lhes disse que preferia a madrinha, com quem fora criada desde que nascera; temos o mais recente de que tomei conhecimento, hoje durante o programa da manhã da SIC, de uma menina que fora violada pelo pai estando entregue a uma instituição... E isto é apenas uma gota de água no oceano, porque se muitos mais foram denunciados, quantos mais ficaram incógnitos e impunes? Quantas crianças terão sido violadas, espancadas, maltratadas? Quantas lágrimas amargas terão sido choradas em silêncio na solidão da noite, quando se temem os ruídos de alguém que se aproxima?...
E no meio disto, o que faz o Governo, o que fazem os organismos responsáveis? Segundo a opinião do juiz encarregue do bebé de Viseu, a CPJM (comissão de protecção a jovens e menores) tem graves falhas... Bem, eu do de Viseu não posso falar, mas posso falar do da minha zona, a Amadora. Porque sem ter passado pelas situações que aqui descrevi, também eu tive uma infância bastante difícil, e o meu caso foi entregue a eles, bem como o do meu irmão mais novo, tinha eu quinze anos, quase dezasseis. Disseram-me que eu já não estava sozinha, que eles estariam atentos porque nós éramos crianças em risco... E esse foi o único dia em que vi a senhora... Nunca mais me apareceu à frente e o problema arrastou-se até há dois anos...
Eu realmemte confesso que, dentro da infância difícil que tive, até tive bastante sorte. Nunca fui espancada nem violada, e estou viva. O mesmo não podem dizer muitas crianças... Mas mesmo assim vivi situações que não desejo a ninguém, vi os meus irmãos vivê-las também. E embora existissem adultos que estavam conscientes da situação, que sabiam o que se passava, nunca ninguém fez nada. Tal como nunca ninguém fez nada em muitos outros casos, ou quando o fizeram fizeram pouco, demasiado pouco... Deixaram as crianças serem entregues a pais sem condições de nenhuma ordem para os criar. Não vigiaram as situações. Fecharam os olhos e os ouvidos, e o resulato foi o sofrimento e a morte de muitas crianças, crianças demais...
Como futura psicóloga, sei que uma criança abusada tem fortes possibilidades de ser um futuro abusador. Aliás, creio que hoje em dia já todos os portugueses o sabem, depois do muito badalado e (ainda) arrastado caso da Casa Pia... Então, quando se irá quebrar o círculo? Para quando uma sociedade justa e preocupada com as crianças que são o dia de amanhã?
Sou utópica? Sou, realmente. Mas também eu tenho um sonho e, tal como John Lennon, "I hope some day you will join us/And the world will be as one!".
3 Comentários:
Assim sendo, quase metade dos escritores deste blog estariam a descansar em paz. A cada um escolher sobre a sua vida. Mas de facto as coisas que outras pessoas fazem são indesculpáveis.
Prometeu
Adorei o que escreveste, mas muito havia ainda para dizer..Para ser sincero nem foi o que gostei mais..Também é verdade que só li este e o dos 31 anos do 25 de abril..esse sim está fascinate e desmascarador.Muito bom mesmo.Parabéns.
cumprimentos
Acredita, percebi tanto quanto tu... Isto não estava assim...
Seja como for, conheço casos análogos e em que ainda assim as pessoas não têm desejos suicidas. Não quero fazer comparações, apenas reservar a cada um o direito de decidir o que fazer com a sua vida - ou morte.
Prometeu
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