Agora que se aproxima a altura das eleições, e tendo este
blog também um carácter eminentemente político, não poderíamos deixar de fazer referência a este tema. Porém, como forma de introdução, queríamos também manifestar o mais veemente repúdio por esta forma de total e completo embuste a que chamam Democracia Representativa, a esta forma de controlo disfarçado em que as posições de poder se mantêm completamente fechadas a influências que venham realmente do povo. Não obstante, estando ainda a sociedade numa fase do seu despertar demasiadamente embrionária, desorganizada e perdida em termos de referências, é vital que utilisemos as armas que o sistema se vê obrigado a pôr à nossa disposição.
Esta questão já foi de certa forma abordada
aqui, mas pretende-se desta forma levar o raciocínio mais longe e de forma mais desenvolvida, o que não dispensa a consulta do
link acima indicado, retirado de "O Fogo de Prometeu". A questão aqui é, como se perceberá, incentivar ao voto em branco. Ao mesmo tempo, tentar resolver a questão que se instalou na blogosfera - a escolha entre votar em branco e simplesmente não votar de todo. Há diferenças fundamentais entre estas duas posições, não propriamente nas ideias que uma e outra defendem - é claro que o que se procura aqui fazer é lançar um repto ao sistema pseudo-democrático, demonstrar que algo não está correcto - mas sim a forma como a leitura dos actos pode ser feita. A demonstração das intenções, para além de ter que ser feita com convicção, tem também de ser feita de forma
inequívoca. Isto é, o acto tem que ter tal intensidade e intenção que apenas uma leitura possa daí resultar. Não podemos esquecer que, apesar de a blogosfera ser a forma de imprensa mais livre que existe e onde podemos livremente manifestar as nossas opiniões e travar lutas ideológicas contra o regime estabelecido, não temos ainda a influência suficiente para combater os principais pilares de apoio político junto da opinião pública: os
mass media. Isto impede que cada um de nós (e todos ao mesmo tempo) possamos fazer uma declaração de voto e permite em simultâneo a distorção das intenções, caso estas não sejam de facto inequívocas.
O não-voto é uma forma de protesto total, que, a generalizar-se, lançaria o caos completo sobre a forma de organização do sistema e sobre todas as estruturas pseudo-democráticas que supostamente nos apoiam, quando na verdade apenas são as muletas do Estado-Pai. Porém, o não-voto tem uma séria desvantagem. O não-voto
já é um hábito generalizado. Muitas vezes, quem ganha as eleições é a abstenção. Ainda assim, não vemos as instituições pseudo-democráticas a tremer de medo, muito embora esteja agora na moda que os candidatos apelem ao voto (com medo de simplesmente não terem a percentagem suficiente para derrotar os oponentes, claro). Porquê este não-efeito? Pelo acima referido, ou seja, pelo facto de que é possível (e, aliás, muito fácil) fazer uma interpretação diferente do não-voto. A abstenção é agora tida como o sintoma principal de uma "democracia evoluída e amadurecida", em que tudo corre "sobre rodas" e em que as massas estão minimamente satisfeitas com o funcionamento geral, sendo apenas necessário proceder a mudanças sobre a ideologia que predomina num dado momento e que corresponde a uma determinada forma de agir dentro de um mesmo sistema. Assim, quem for não-votar, estará a ser adjudicado, mesmo contra vontade, neste grupo de pessoas que apenas vêem estabilidade à sua volta. Para além disto, e o que é mais vergonhoso, é que esta interpretação é, na maioria dos casos, "verdadeira": as pessoas realmente não votam por preguiça, por sentimento de impotência, por falta de informação, por achar que isto é "tudo o mesmo". Aqueles que praticam o não-voto estão juntos (nas estatísticas que são divulgadas e que enformam a maneira como as massas vêem os resultados) com este bando de preguiçosos. O que daqui resulta, quer queiramos quer não, é uma anulação da acção interventiva do não-voto. Comparativamente falando, seria como tentar fazer uma manifestação silenciosa sem dizer quais as razões no meio da multidão que todos os dias passa na Baixa de Lisboa: no meio de tantas pessoas silenciosas a passar para trás e para diante, os manifestantes não seriam notados simplesmente porque escolheram não manifestar realmente as causas do seu descontentamento ou mesmo quaisquer reivindicações. A facilidade e a credibilidade desta subversão estão contra as reais intenções que o não-voto busca. Além do mais, a abstenção
en masse teria certamente como resposta uma qualquer medida coerciva por parte do Estado; por muito destabilizador que fosse, serviria apenas para que este mostrasse a sua verdadeira face.
Por outro lado, o voto em branco é uma acção positiva (no sentido em que é preciso de facto ir fazer algo, ao invés do não-voto). Sendo uma acção positiva, envolve empenho, envolve a passagem de uma mensagem de forma muito mais consciente e, portanto, mais difícil de ser subvertida. A mensagem que o voto branco envia de forma inequívoca é esta: "nenhum dos acima mencionados foi considerado apto para a posição à qual se candidatou e, por conseguinte, a forma de governo que aqui se apresenta não é a correcta". Imaginemos por um momento que toda a abstenção era transformada em votos em branco. O que aconteceria então? É verdade que a abstenção é grandemente desconsiderada, e a muitos causa mais alívio do que preocupação; mas o que dizer de mais de 50% de votos em branco? Votar em branco exige um repensar completo de qualquer estratégia discursiva de ocultação que o sistema actual possa conceber. Mais ainda: impossibilita a ocultação. Não se pode dizer que o povo não participou, pode-se sim dizer que o povo participou e que rejeita veementemente qualquer um dos propostos. Que a solução que se lhes apresenta não é, afinal de contas, solução alguma. A propósito disto, aconselho a leitura do "Ensaio Sobre a Lucidez" de José Saramago.
É natural que nem a abstenção esclarecida nem a votação em branco vão ganhar estas eleições, muito embora a abstenção "normal" as deva ganhar certamente. Ainda assim, queremos aqui estabelecer uma forma de pensar que se reflicta na forma de agir - este não é um dos objectivos finais dos Neo-Illuminati, que jamais poderiam ser um partido político, apenas uma forma de luta pró-activa contra o actual regime, e ao mesmo tempo uma forma de demonstrar a quem nos acusa de teorização pura que estamos completamente dedicados à mudança efectiva das condições de escravatura e exploração em que vivemos actualmente. Este
post não é nem pretende ser uma cobertura extensiva das posições sobre o sistema político que os Neo-Illuminati defendem. Essas serão abordadas noutra altura, de forma mais exaustiva e tendo em conta outros aspectos. Isto é um apelo à consciência, ao despertar. É por aqui que se pode ver se realmente as nossas mensagens têm de facto surtido algum efeito. Quando olharem para o boletim de voto, pensem sobre o que a Democracia significa e pensem se alguma vez viveram numa.
Prometeu