Ainda a sexualidade VS a religião
Christians Sue for Right Not to Tolerate Policies
Many codes intended to protect gays from harassment are illegal, conservatives argue.
ATLANTA — Ruth Malhotra went to court last month for the right to be intolerant.
Malhotra says her Christian faith compels her to speak out against homosexuality. But the Georgia Institute of Technology, where she's a senior, bans speech that puts down others because of their sexual orientation.Malhotra sees that as an unacceptable infringement on her right to religious expression. So she's demanding that Georgia Tech revoke its tolerance policy.
Vejo aqui uma série de problemas em conjunto.
O primeiro, e mais óbvio, é - não podia deixar de ser - a expressão clara da forma reaccionária como a Igreja encara e sempre encarou a sexualidade. Já tenho desenvolvido isto noutros posts, pelo que não me vou alongar muito. A sexualidade é uma componente essencial, fundante, da psique humana; é uma das mais bem conseguidas expressões de todas as facetas humanas. Pegando em Freud novamente, até mesmo a religião pode ser vista como um sub-produto do funcionamento da psique sexual! Assim sendo, o que mais deve ser encorajado é a liberdade e a diversidade, não o contrário. É também óbvio o potencial expansivo - explosivo - que a temática da sexualidade abriga, e que tem obrigado poder atrás de poder a engarrafá-la e a administrá-la como acha melhor. O resultado é este: pessoas que lidam com o sexo de forma preconceituosa, agarrados à ilusão que existe uma diferença entre o "natural" e o "artificial". O ser humano é, por natureza, artificial. A artificialidade é naturalmente aquilo que nos identifica. O ser humano não têm essência que o preceda. Mesmo a lei divina, caso existisse, seria um caso óbvio de artificialidade - seria um código de conduta sexual imposto de forma artificial sobre os humanos, estando portanto em pé de igualdade com o sexo heterossexual.
Por outro lado, e afastando-me do campo puramente sexual, os que se opõem contra a homossexualidade - e não nos esqueçamos que todo o cristão tem que o fazer, por mandato divino - estão a limitar a concepção de Amor a uma forma puramente animalesca, ou mesmo abaixo disso, já que os comportamentos homossexuais nos animais são abundantes. Se somos seres com sapiência, com racionalidade, aquilo que nos atrai afectivamente é, em princípio, o reflexo nos outros dessa mesma racionalidade. Faz, portanto, algum sentido que essa busca do reflexo da racionalidade tenha que se restringir a condicionantes anatómicas? Seria isto o mesmo que dizer que uma pessoa amputada não está ao mesmo nível racional que uma pessoa com o corpo intacto, não? O mero facto de eu ser heterossexual não vem, suponho, invalidar a argumentação por essa mesma linha de raciocínio - não são factores físicos ou sentimentais que anulam a racionalidade.
Retiro agora alguns excertos dos meus comentários no post do Diário Ateísta para referir aspectos mais formais da questão.
O direito de cada um ter a sua escolha sexual e de a demonstrar publicamente - desde que em conformidade com o considerado normal dentro de cada sociedade - está acima dos interesses religiosos. Passo a explicar: se é verdade que a religião proiba a prática da homossexualidade, é também verdade que ver duas pessoas do mesmo sexo a beijarem-se não constitui prática de homossexualidade e, portanto, nenhum princípio religioso é quebrado.
Pelo contrário, um insulto público feito por um religioso a um casal homossexual é um acto deliberado de agressão não provocado e sem fundamento, que perturba efectivamente os destinatários dessa agressão.
A posição da jovem é anti-ética por ser claramente ofensiva contra a população homossexual. Não existe aquí crítica, apenas o atirar de insultos gratuitos. A crítica exige racionalidade, exige argumentação. Dizer "a homossexualidade é má porque Deus diz" não é um argumento, porque para o ser teria de ser provar a existência e a "omni-sapiência" de Deus. Por outro lado, os ateus normalmente argumentam contra a religião.
É também anti-democrática porque exige que uma instituição pública (a universidade) tome o partido das crenças privadas (religiosas) que ela tem. Não percebo porque é que a religião se deve sobrepor à Lei isenta, nem sequer porque é que tem que ser a religião dela a ditar as normas. Tudo isto é extremamente despótico. E seguindo Habermas, o que a jovem está a tentar fazer é uma publicitação dos seus interesses privados sem a passagem pelo processo de publicitação como ele era entendido ainda na era do verdadeiro espaço público, do tempo da sociedade de públicos e não de massa.
Prometeu