segunda-feira, abril 17, 2006

Ainda a sexualidade VS a religião

Seguindo um outro post do Diário Ateísta, deparei-me com esta notícia:

Christians Sue for Right Not to Tolerate Policies

Many codes intended to protect gays from harassment are illegal, conservatives argue.
By Stephanie Simon, Times Staff Writer
April 10, 2006

ATLANTA — Ruth Malhotra went to court last month for the right to be intolerant.

Malhotra says her Christian faith compels her to speak out against homosexuality. But the Georgia Institute of Technology, where she's a senior, bans speech that puts down others because of their sexual orientation.
Malhotra sees that as an unacceptable infringement on her right to religious expression. So she's demanding that Georgia Tech revoke its tolerance policy.


Vejo aqui uma série de problemas em conjunto.

O primeiro, e mais óbvio, é - não podia deixar de ser - a expressão clara da forma reaccionária como a Igreja encara e sempre encarou a sexualidade. Já tenho desenvolvido isto noutros posts, pelo que não me vou alongar muito. A sexualidade é uma componente essencial, fundante, da psique humana; é uma das mais bem conseguidas expressões de todas as facetas humanas. Pegando em Freud novamente, até mesmo a religião pode ser vista como um sub-produto do funcionamento da psique sexual! Assim sendo, o que mais deve ser encorajado é a liberdade e a diversidade, não o contrário. É também óbvio o potencial expansivo - explosivo - que a temática da sexualidade abriga, e que tem obrigado poder atrás de poder a engarrafá-la e a administrá-la como acha melhor. O resultado é este: pessoas que lidam com o sexo de forma preconceituosa, agarrados à ilusão que existe uma diferença entre o "natural" e o "artificial". O ser humano é, por natureza, artificial. A artificialidade é naturalmente aquilo que nos identifica. O ser humano não têm essência que o preceda. Mesmo a lei divina, caso existisse, seria um caso óbvio de artificialidade - seria um código de conduta sexual imposto de forma artificial sobre os humanos, estando portanto em pé de igualdade com o sexo heterossexual.

Por outro lado, e afastando-me do campo puramente sexual, os que se opõem contra a homossexualidade - e não nos esqueçamos que todo o cristão tem que o fazer, por mandato divino - estão a limitar a concepção de Amor a uma forma puramente animalesca, ou mesmo abaixo disso, já que os comportamentos homossexuais nos animais são abundantes. Se somos seres com sapiência, com racionalidade, aquilo que nos atrai afectivamente é, em princípio, o reflexo nos outros dessa mesma racionalidade. Faz, portanto, algum sentido que essa busca do reflexo da racionalidade tenha que se restringir a condicionantes anatómicas? Seria isto o mesmo que dizer que uma pessoa amputada não está ao mesmo nível racional que uma pessoa com o corpo intacto, não? O mero facto de eu ser heterossexual não vem, suponho, invalidar a argumentação por essa mesma linha de raciocínio - não são factores físicos ou sentimentais que anulam a racionalidade.


Retiro agora alguns excertos dos meus comentários no post do Diário Ateísta para referir aspectos mais formais da questão.

O direito de cada um ter a sua escolha sexual e de a demonstrar publicamente - desde que em conformidade com o considerado normal dentro de cada sociedade - está acima dos interesses religiosos. Passo a explicar: se é verdade que a religião proiba a prática da homossexualidade, é também verdade que ver duas pessoas do mesmo sexo a beijarem-se não constitui prática de homossexualidade e, portanto, nenhum princípio religioso é quebrado.
Pelo contrário, um insulto público feito por um religioso a um casal homossexual é um acto deliberado de agressão não provocado e sem fundamento, que perturba efectivamente os destinatários dessa agressão.

A posição da jovem é anti-ética por ser claramente ofensiva contra a população homossexual. Não existe aquí crítica, apenas o atirar de insultos gratuitos. A crítica exige racionalidade, exige argumentação. Dizer "a homossexualidade é má porque Deus diz" não é um argumento, porque para o ser teria de ser provar a existência e a "omni-sapiência" de Deus. Por outro lado, os ateus normalmente argumentam contra a religião.

É também anti-democrática porque exige que uma instituição pública (a universidade) tome o partido das crenças privadas (religiosas) que ela tem. Não percebo porque é que a religião se deve sobrepor à Lei isenta, nem sequer porque é que tem que ser a religião dela a ditar as normas. Tudo isto é extremamente despótico. E seguindo Habermas, o que a jovem está a tentar fazer é uma publicitação dos seus interesses privados sem a passagem pelo processo de publicitação como ele era entendido ainda na era do verdadeiro espaço público, do tempo da sociedade de públicos e não de massa.

Prometeu

sábado, abril 15, 2006

Privados de educação

Executive funds abstinence programmes in Catholic schools

By Judith Duffy, Health Correspondent


A new abstinence programme to be introduced in Catholic Schools has raised fears that the Scottish Executive is planning a two-tier sex education system.

Ministers are to fund a £170,000 project that will set itself against “artificial contraception”. The new initiative, entitled Called to Love, will instead promote marriage and the sanctity of human life.

News of the project has confirmed the anxieties of campaigners who felt that a separate sex education system was being introduced by the back door for pupils in Catholic schools.

One critic of the Executive’s approach said the new project could “harm” children by not equipping them with impartial information on sex and relationships.

The programme, which will be launched in Catholic schools in the summer, will develop materials, a website and training for staff which place the teachings of the Church “at the heart” of guidance for pupils on relationships and sex.

Catholic education leaders have told the Sunday Herald this will mean a focus on delaying sex until marriage and that condoms and other such contraceptives will not be promoted.

Parece-me que, afinal de contas, as bestas não param nem leem o blog dos Neo-Illuminati... Este tipo de atitudes é claramente prejudicial e, para além disso, tipicamente cristão/católico, com todo um falso puritanismo e pudor que não se enquadram minimamente dentro do contexto social actual. Querer fazer com que os jovenzinhos se regulem a eles mesmos, mantendo-se afastados do sexo é, por definição [freudiana] impossível, ridículo mesmo. A vontade de suprimir aquilo que não consegue controlar e que tem um elemento de potencial perda de controlo - note-se que o totalitarismo sempre tentou regular a sexualidade, seja pela via da religiosidade salazarista, pela via da selecção artificial e "técnica" da espécie ariana. Da mesma forma, e apelando a Foucault, não se trata de um mecanismo do silêncio: repare-se, o sexo não é, de forma alguma, silenciado. Muito simplesmente, é reenquadrado e rebaixado; atrevo-me a dizer "vilanizado", de forma a que, longe de serem levados pela curiosidade, os jovens possam ser afastados pela suposta certeza de uma impureza.

Deixem que vos conte que, um dia, estava a ver um a reportagem sobre um dos muitos programas de castidade e abstinência para jovens nos EUA, e tive a infelicidade de ver um spot propagandístico que era qualquer coisa deste género: um grupo de jovens partilhava uma garrafa de água, e a outro era dado a escolher entre essa garrafa ou uma ainda por abrir. É clara a analogia da partilha como "impureza" e conspurcação do corpo, o que, muito claramente para qualquer pessoa esclarecida, tem mais que ver com o tipo de ignorância selectiva que este tipo de campanhas promove do que propriamente com o tipo de vida sexual.

Como se não bastassem os maus-tratos a essa bela coisa que é o sexo, sob todas as suas formas em consciência consentidas, ainda têm que criar estas demonizações?! Esta era, que deveria ser a da libertação e emancipação sexual que começou no século passado, está muito rapidamente a transformar-se no século do conservadorismo, em que a geração que está prestes a sair de cena se vê atarefada a tentar fazer retroceder os actuais jovens ao estado intelectual em que os seus pais se encontravam - será isto inveja do conhecimento actualmente disponível ou do que eles perderam na altura? É estranho pensar como se consegue passar do libertarismo dos anos 60 e das comunidades hippies para este "engarrafamento" do sexo em padrões mais estreitos do que a inteligência do Rato Zinger [perdão, do Bento XVI].

Vejam também isto, para obterem algumas informações interessantes sobre o resultado deste tipo de campanhas nos EUA e na Inglaterra.

sexta-feira, abril 14, 2006

Opus Dei quer fazer das suas

Opus Dei - NOTÍCIAS - Carta aberta a Sony: "Carta aberta a Sony
O Gabinete de Informação do Opus Dei no Japão dirigiu uma carta, com data de 6 de Abril, aos accionistas, directores e empregados da Sony, a propósito da película 'O Código Da Vinci', que esta empresa produziu. Disponibilizamos a tradução dessa carta.

2006/04/13"

Pois é, agora a Opus Dei quer
incluir no princípio da película um “disclaimer” que esclareça que esta é uma obra de ficção, e que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

o que naturalmente choca directamente com o pequeno pormenor: "A novela mistura realidade e ficção" [itálico meu].

Eu diria que eles se deviam decidir, antes de tentar influenciar de forma tão desprezível uma obra de arte, independentemente da sua qualidade.

Mais um pequeno passo para a mobilização da censura...

Prometeu

segunda-feira, abril 03, 2006

PUBLICO.PT

PUBLICO.PT: "Nas próximas semanas, os portugueses que tenham carregado ou descarregado ilegalmente músicas na internet irão receber uma carta a convidá-los a pagar uma indemnização por desrespeito dos direitos de autor ou, em alternativa, enfrentar um processo judicial.

John Kennedy, o presidente e administrador executivo da IFPI, a federação que representa a indústria fonográfica em todo o mundo, lança, depois de amanhã, em Lisboa, mais uma vaga de processos judiciais contra as pessoas que partilham ficheiros musicais, de forma ilegal, na internet.

Esta é a primeira vez que Portugal é incluído neste programa de combate à pirataria digital de músicas.
"

Ponto número um: leiam os numerosos comentários em relação ao artigo feitos no site do Público.

Número dois: e que tal se estes idiotas se deixassem de mentiras, meias-verdades e falácias e fossem tratar de coisas importantes? Andar a lutar contra a maré é uma actividade ingrata e mais valia eles deixarem-se de anacronismos estúpidos.

Prometeu